quinta-feira, novembro 11, 2010

São Martinho



«São Martinho é o primeiro dos Santos não Mártires, o primeiro Confessor, que subiu aos altares no Ocidente. No dizer de Durando de Mende, a liturgia consagra-lhe um lugar semelhante aos dos Apóstolos, por ter sido ele quem concluiu a evangelização das Gálias. A sua festa era de guarda e favorecida frequentemente pelos dias de "verão de São Martinho", rivalizando, na exuberância da alegria popular, com a festa de S. João. Tinha Oitava como S. Lourenço, porque S. Martinho, "pérola dos sacerdotes", era entre os Confessores o que S. Lourenço era entre os Mártires, o maior dos Confessores. Nasceu na Sabária Panónia) e veio para as Gálias como soldado.

Sendo ainda catecúmeno, deu um dia perto de Amiens a um pobre, que Ihe pedia esmola por amor de Cristo, metade da clâmide. Na noite seguinte, Jesus Cristo apareceu-lhe vestido com essa metade que ele dera ao pobre, e disse-lhe: "Martinho, sendo ainda catecúmeno, vestiu-me com este manto".


Recebeu o baptismo aos 18 anos. Depois de viajar pelo Oriente, onde se iniciou na vida monástica, faz por algum tempo vida de eremita numa ilha das costas da Ligúria. Finalmente, fez-se discípulo de Santo Hilário, que então florescia na cadeira episcopal de Poitiers e fundou no deserto de Ligugé, a duas léguas da sede do Bispado, um mosteiro para onde se retirou com alguns discípulos. Lançou assim os alicerces do monaquismo nas Gálias.


Mas Deus não queria que esta luz, ficasse oculta debaixo do alqueire, e S. Martinho foi arrancado à paz da solidão e revestido da dignidade episcopal, que lhe deu ensejo para desenvolver largamente os dotes do seu coração de apóstolo. Pregou o Evangelho pelos campos da Gália e extirpou de vez os resíduos tenazes do paganismo, que tinham resistido à investida cristã a coberto da superstição e da ignorância do povo. Colocado à frente da diocese de Tours, fundou a célebre abadia de Marmoutiers ou o grande mosteiro aonde com frequência se retirava para viver mais longe do mundo,e mais perto de Deus. Cercavam-no oitenta monges de vida santíssima, pautada pelo exemplo e regra dos eremitas da Tebaida.


Viveu mais de oitenta anos, ocupado sempre com a glória de Deus e a salvação das almas, e morreu em Candes, perto de Tours, em 397.


Ao seu túmulo afluíam de toda a parte peregrinações frequentes. Gregório de Tours, que lhe sucedeu, não hesita em chamar-lhe o "Patrono de todo o mundo". Poucos santos alcançaram a popularidade dele. Só em França há perto de mil igrejas paroquiais e 485 burgos e lugares com o seu nome. Em Roma é notável a igreja de S. Silvestre e S. Martinho, onde se faz a estação de quinta-feira da quarta semana da Quaresma.
A capa de São Martinho era conduzida à frente dos exércitos em tempo de guerra e nela se pregavam os sermões solenes em tempo de paz. Símbolo da protecção, que S. Martinho dispensava à França, esta capa deu o nome ao oratório, que a guardava, e a todos os oratórios, ou "capelas"»





Chaves, Luís -"São Martinho de Tours", in Separata da Revista de Etnografia nº1, Museu de Etnografia e História (1963)