segunda-feira, maio 12, 2008

Sou um rebento
do Amor,
nascido sob
o calor
d´um raio
de Primavera

Sou a seiva
correndo
pelo tronco
acima,

o fluxo da vida
radiando
da profundeza
do Mundo,

Projectando a
plenitude Divina
na reunião
do Céu e da Terra.


Francisco Canelas de Melo
Sou uma folha caída
pairando pelo ar,

Flutuo ao vento,
boiando sem destino
entregue ao meu fado,

Sou vítima da gravidade,
caío redonda
sobre o leito quente
no ameno outono,

Em gélido ventre,
aguardo,
que o calor
profundo
me leve a
renascer...


Francisco Canelas de Melo

quinta-feira, maio 08, 2008

Versos de Ouro de Pitágoras

Em primeiro lugar, presta aos Deuses Imortais o culto habitual estabelecido pela Lei.

Respeita o juramento e os nobres heróis. Honra os defuntos e pratica todos os rituais libertadores em sua memória.

Venera o teu pai, a tua mãe e os teus próximos.

Escolhe alguém entre os homens e faz com que o teu amigo seja aquele que há-de brilhar pela sua virtude. Cede aos seus suaves conselhos, inspira-te nele. Nunca lhe queiras mal por qualquer pequeno erro, se fores capaz disso, porque a fatalidade pode por vezes modificar a vontade dos homens.

Fica a saber que é assim. Por isso empenha-te em dominar isto:

Em primeiro lugar o teu apetite, em seguida o teu sono, e depois os vãos desejos dos sentidos e o fogo da cólera.

Nunca faças o mal, com outros ou sozinho.

Acima de tudo, atenta nisto:

Respeita-te a ti mesmo.

Sê justo nos teus actos e nas tuas palavras.

Não inicies nenhuma acção sem ter reflectido.

Lembra-te que a morte é para cada um de nós a lei inexorável.

Quanto aos bens terrenos, sabe ganhá-los ou perdê-los com o mesmo estado de espírito.

E quanto aos males que o destino traz com ele, suporta-os sem gemer pela parte que te toca, tenta suavizar as marcas no que for possível.

Sabe ainda que:

Muitas vezes, os maiores males são afastados dos sábios.

Muitos e variados discursos, vis ou virtuosos, vêm acordar os homens. Não os aceites apressadamente nem os rejeites de modo precipitado.

Se te mentirem, suporta-o com doçura.

Ouve o meu conselho e segue-o sem vacilar:

Que ninguém, pela palavra ou pelos actos, te leve a proceder contra a tua vontade.

Reflecte bem antes de te decidires; é próprio de um louco cometer loucuras, por isso nunca faças nada de que te venhas a arrepender.

Não pretendas fazer aquilo que não sabes.

Aprende sobretudo o que for necessário saber. Se seguires estes conselhos, felizes serão os teus dias.

A saúde exigirá todos os teus cuidados; que o teu corpo tenha o alimento que é preciso, e exercício adequado para não o enfraqueceres. O que quero dizer por adequado é o que não te prejudica.

Vive na simplicidade, modestamente e sem moleza, evita o que te pode rodear de desejos, e não te entregues a gastos loucos, como fazem muitas vezes os ignorantes do belo.

Mas também não caias na temível avareza.

Adopta em todas as coisas a justa medida.

Faz aquilo que não te prejudica e avalia antes de agir.

Sabe que, ao acordares, a coisa urgente é traçar o plano dos teus actos futuros.

À noite, que o sono não te domine antes da tua consciência ter avaliado longamente todos os actos efectuados por ti durante o dia.

Interroga-te: "cometi algum erro? Que fiz eu? Ou então, será que não fiz o que devia ter feito?"

Revê assim os teus actos a partir do primeiro.

Se fizeste o mal, sabe arrepender-te.

Se fizeste o bem, sabe regozijar-te.

Sim, será este o teu objectivo constante dos teus esforços.

Observa estes conselhos:

Fá-lo com amor; eles poderão conduzir-te às divinas virtudes.

Juro por Aquele que transmitiu à nossa alma o Quaternário sagrado, fonte de eternidade de toda a natureza.

Mas antes de realizares a tua tarefa, terás de pedir aos deuses que te ajudem a completar a obra começada.

Quando fizeres de tudo isso um hábito, saberás os segredos dos deuses imortais tão bem como so dos homens mortais.

Saberás o que une ou separa os seres.

E se o homem atingir o direito de saber, verás que a natureza é a mesma por toda a parte; o teu coração já não se saciará com vãos desejos.

Verás que os males que os homens enfrentam foram exclusiva e livremente escolhidos por eles.

Porque estes desafortunados ignoram a felicidade que se encontra ao lado deles; tapam os ouvidos e fecham os olhos.

Poucos sabem escapar à infelicidade que os espreita.

Empurrados para cá e para lá, a fatalidade cega-lhes de tal modo o espírito que erram por toda a parte como troncos que flutuam, em males infinitos.

Sem que a possam ver, a mortificadora discórdia acompanha-os e leva-os à infelicidade.

Afasta-a de ti, foge dela com horror.

Ó Zeus, Tu, nosso Pai, se tu quisesses, poupá-los-ias dos males que os atormentam, se lhes mostrasses o segredo da sua alma.

Ganha coragem, meu filho, porque a tua raça é divina; a natureza sagrada far-te-á progredir, comunicando-te o fundo de todas as coisas.

Ao mostrar-to, ela permitir-te-á aplicar as lições do que prescrevi; remediarás os males da existência e livrarás a tua alma dos sofrimentos.

Todavia, abstém-te de certos alimentos de que falámos e que é preciso evitar para purificar a alma e para lhe assegurar a sua libertação.

Não faças nada sem razão; confia-lhe as rédeas da tua alma.

E quando finalmente deixares aqui o teu corpo, quando no livre éter voares, liberto para sempre das garras da morte, no seio dos Imortais, tu mesmo serás Deus.

O VINHO MÍSTICO (KHAMRIYA)

Em memória do Bem-Amado
Bebemos o Vinho que nos inebria
Antes mesmo da criação da videira

A taça que o contém
é um disco lunar brilhante
O Vinho, é sol.
Um crescente luminoso,
Um mordomo o serve à roda.
Com que luminosidade resplandece,
Já que no Vinho
Se misturam as estrelas !

Sem o perfume que exala
Um precioso perfume de musque
Eu jamais teria encontrado
o caminho da verdade
que conduz às suas tavernas.
Sem a luz que indica
Sua presença ao longe,
Sua imagem jamais teria
Nascido em meu espírito.

Pois neste século,
Sobrou dele apenas
um ligeiro sopro.
Como se no fundo dos corações
Um pacto secreto
Tivesse encerrado sua lembrança.

Então, apenas na tribo
Seu nome é mencionado,
Pois que uma embriaguez
Toma conta de seu povo.
Embriaguez sem vergonha
E sem pecado.

Por entre os flancos de uma ânfora
Lentamente ele subiu.
E logo, seu nome apenas
Permanece, em verdade,
Para o resgate de sua lembrança.

Tal lembrança
Visita , um dia
O espírito de alguém,
E por isso nesse alguém
A alegria passa a residir,
E a tristeza cela seu cavalo
Para ir-se embora, em longa viagem.

Os convidados descobrem
A tampa que fecha os vasos
Que o contêm.
Só esta visão já basta
Para inebriá-los
Antes mesmo de provar
A bebida.

Este Vinho, o derramamos
Sobre o solo
Onde um morto se enterra :
E tão logo o sopro o reanima
O cadáver e o morto
Levanta-se transbordante de vida.

Não se abandona um doente
Em seu terreno sombrio
Onde crecerá sua videira
Quando o mal tiver partido

O paralítico,
Assim que se aproxima
De suas tavernas,
Volta a caminhar.
Os mudos falam,
Quando se fala
diante deles
da sabor desse Vinho.

Assim que no Oriente
Sopra a brisa
Que traz o seu perfume,
No Ocidente,
Aquele que é privado de sua fragrância
Pode sentí-la
ainda outra vez.

Se, de dentro da taça
Uma gota respinga
Caindo sobre a palma da mão
Daquele que a segura,
Ele jamais se perderá
Caminhando pelas trevas
Pois em sua mão resplandecerá
Uma estrela.

Tal Vinho, é apresentado em segredo
A um cego de nascença :
E no dia seguinte, em plena alvorada
Ele se levanta, tendo recuperado a visão.
Quando se torna claro
o doce murmúrio desse Vinho,
Já logo recupera o ouvido
Aquele que é surdo.

Um tropel de cavaleiros
Ao trotar por sobre a terra
Onde cresce sua videira,
Jamais levaria no casco de seus cavalos
Qualquer resquício verminoso.

Um mago desenhou
Na testa de um possuído
As letras que formam seu nome
O que basta para curá-lo
Tal nome está bordado
No estandarte de um exército,
E todo o que marchar
Na sombra desta bandeira
É conduzido pela embriaguez

Ele educa seus convidados
E por eles, o homem indeciso
Adota o caminho
Das fortes resoluções

Ele sucita a generosidade
Na alma daquele
Cuja mão sempre ignorou doação
Ele ensina a doçura
Àquele que jamais a conheceu
Em seu momento mais colérico.

O mais forte da tribo
Tem o privilégio de beijar
A borda da taça,
Apenas este beijo
Permite-lhe saber
O sentido de suas perfeições

Dizem-me :
Descreva-o para nós,
Já que conheces tão bem
suas qualidades.
Sim, eu o descreverei,
Pois suas qualidades
Conheço-as perfeitamente.

Pureza !
Mas não a da água.
Sutileza !
Mas não a do ar.
Luminosidade !
Mas não a do fogo.
Alma carnal,
Sem corpo de carne.

Suas palavras precederam
Tudo o que existe aqui embaixo,
Quando nesse mundo
Faltavam a forma e a imagem

Por ele constituíram-se
Todas as coisas ;
Em seguida,
Por um certo saber, esconderam-se
Diante dos olhos que não compreendem.

Minha alma amou-o por inteiro.
Eles se misturaram
Para unirem-se
Mas não como uma simples
Mistura de duas matérias

Esse Vinho não foi extraído
De uma Vinha :
Adão é para mim um pai.
Vinha que não dá vinho :
Sua mãe é para mim uma mãe.

A pureza das taças
Contém na verdade
A pureza do sentido secreto
E cujo significado aparece
Através Dele.

A separação veio
Mas o todo é Um.
Nossas almas são o Vinho,
E nossa forma a videira.

Antes dele, não há antes ;
Depois dele, não há depois.
Sua necessária condição
É ser anterior
Ao mais recuado dos tempos.

Seu tempo
Precedeu o limite extremo do tempo.
O tempo de nosso pai
Veio apenas depois do seu.
Nossos pai viveu muito depois dele,
Como um órfão.

Seus admiradores
Celebram seus louvores,
Emocionados por sua beleza
São estes exelentes
Em verso ou mesmo em prosa.
Ao escutar os seus propósitos,
Regozija-se o que jamais ouvira,
Como o amante apaixonado
Pela bela Nou´m,
Assim que se pronuncia diante dele
O nome de sua amada.

Alguns me disseram :
Ao beber esse Vinho,
Cometeste iniquidade !
Isto não é verdade,
Pois iniquidade teria eu cometido
Ao privar-me de bebê-lo !

Que esta bebida
Alegre o coração
Dos habitantes do monastério !
A que embriaguez se abandonaram !
Entretanto não o beberam,
Mas apenas alimentaram
Sua intenção em bebê-lo.

Sua embriaguez, eu a experimentei
Antes de minha puberdade.
Em mim, ela será para sempre,
Mesmo depois de terem os meus ossos
Tornado-se poeira

Tal Vinho, bebe-o puro,
Pois, ao querer misturá-lo
A um outro licor
Que não a saliva do Amado,
Aí cometerás um crime !

Ele te espera nas tavernas,
Descobre o seu esplendor.
Bebe-o ao som de músicas,
Pois com ele, a música
É como uma presente que se oferece

Jamais ele habitou
Onde vive a tristeza.
E jamais a tristeza permaneceu
Na casa onde as canções se fundem

Embriaguez de uma hora !
O tempo se torna teu escravo
Sempre submetido,
Ainda que tua vida se interrompa
no final desta hora.
A ti então, o poder !

Aquele que viveu neste mundo
Sem embriaguez,
É como se não tivesse vivido !
Aquele que não morre
Desta embriaguez
Faltou-lhe a coragem
Neste mundo onde passou.

Que ele chore então por si mesmo,
O homem que abriu mão de seu direito,
Durante a vida inteira,
Direito de beber deste Vinho,
Vinho que rejeitou.


Omar ibn al-Farid
De como as gentes se dividiram por várias partes do mundo e como Túbal, neto de Noé,
veio povoar nosso Reino de Lusitânia e fundou nele a povoação de Setúbal.

Divididos em várias partes do mundo os descendentes de Noé, conforme a primeira divisão que já tocámos, Túbal, filho de Jafet, com a gente de sua família, escolheu por habitação mui acomodada a seu gosto a parte mais ocidental da Europa, para onde se partiu com grande número de gente; e, dando no mar mediterrâneo, se meteu com os de sua companhia em algumas embarcações feitas a modo de galés, descobertas e de menos fábrica que as do tempo de agora, como parece sentir Josefo em suas antiguidades e Xenofonte no livro dos equívocos. Nestas piquenas fustas navegaram ao estreito de Gibaltar, onde, levados das correntes do mar e ímpeto das ondas, saíram, como refere nosso Laimundo, ao mar Oceano, da grandeza e imensidade do qual pouco satisfeitos, como gente que trazia inda nos olhos a cruel destruição das águas, se acolheram à terra, dobrando sempre sobre a mão direita, té que ja no fim de alguns dias, tendo já passada uma grande ponta de terra, chamada dos antigos Promontório Saghrado e dos modernos Cabo de S. Vicente, se acharam em uma fermosa baía, por onde se lança no grande Oceano Ocidental um rio, maior em proveitos de pescarias e navegações que em quantidade de águas.

Vendo Túbal o bom sítio da terra, e os que consigo trazia enfadados de navegação tão larga, determinou fazer naquele lugar seu assento; e, tirando das embarcações o que trazia, deu princípio a uma povoação e modo de República, ordenada com as brandas leis e pouco maliciosos costumes daquele novo mundo, fundando moradas de sua vizinhança de ramos de árvores, cobertas com o feno de campo, sem as soberbas suntuosidades que a malícia dos homens inventou no tempo adiante.

Aqui viveu Túbal alguns anos, com toda a gente de sua companhia, apacentando os gados em que tinham naquele tempo o melhor de sua riqueza, e dele se deu nome à nova povoação que fundara, chamando-lhe Setúbala, que, segundo o Viterbense, tanto significa como ajuntamento de Túbal, e Pompónio Mela a chama Dúbal, usando da muita semelhança e quase uniformidade que sempre tiveram e têm as letras D e T, de que os autores usavam algumas vezes sem nenhuma distinção.


Esta povoação é a que no tempo de agora, com mui piquena alteração do primeiro nome, chamamos Setúval, assaz conhecida no Reino de Portugal e muitos fora dele, pelo grande e seguro porto de mar que tem junto de si e pela cópia de fermosas canterias de jaspe e pórfidos finissimos, donde se levam para diversas partes do mundo.

Desta antiquíssima cidade fez o mestre Florião do Campo uma estendida narração em seu livro primeiro, confessando ser ela a primeira que em Espanha teve nome e figura de República ordenada, sem consentir que Túbal aportasse primeiro em Portugal que em Andaluzia; mas com dizer que desembarcou noutra parte atribue a Castela a glória de mais antiga, e Martim de Viciana, buscando modo para engrandecer sua pátria, trabalha por mostrar que a desembarcação destes primeiros povoadores de Espanha foi no Reino de Valença, cuja história ele compos, cheia de muita doutrina. Depois dos quais achou Garivai outras novas conjecturas, donde conclue que Biscaia foi a primeira região em que Túbal tomou terra e assentou morada. Mas, como tudo o que dizem traz mais fundamento em imaginações e subtilezas inventadas de bom juízo, que em fé e autoridade de livros antigos, não há para que aprovar nem contradizer nenhuma delas. Mas com eles próprios, que ao fim não podem fugir de força e autoridade que tem a tradição antiga, digo que nosso Reino foi o mais antigo na povoação e Setúval o lugar em que primeiro ordenaram modo de vivenda e vezinhança com uma.


Livro Primeiro da Monarchia Lusitana - Frei Bernardo de Brito

terça-feira, maio 06, 2008



Sou a Pedra,
Sou o aço,
o imutável,
a Luz incriada!

Sou a vontade inquebrável,
a luz sobre a sombra,

Sou o rouxinol cantando,
a lontra nadando,
o pica pau perfurando
o interior do meu Ser.

Sou a folha caindo
sobre o leito do rio
flutuo p´lo mundo
boiando sem rumo...

Sou o regato do Amor
correndo...
...desaguando no
Abismo do sonho!


Francisco Canelas de Melo