segunda-feira, outubro 31, 2011



Morri...
Não sei o que morri...
Não sei o que jaz em mim...

Morte=transgressão do Ter!
Que possuímos além-Morte?
... o Ser!


Francisco Canelas de Melo



Ouvimos os sons do Mundo,
Ruído infernal,
Onde reina o Silêncio em Nós?

Escutamos ou ouvimos?...
Existimos ou vivemos?
Olhamos ou vemos?...

Onde reinas tu, ó Encoberto?
Onde jaz tua Morte?!


Francisco Canelas de Melo

terça-feira, agosto 02, 2011

«Aspiro a um repouso absoluto e a uma noite contínua. Poeta das loucas voluptuosidades do vinho e do ópio, não tenho outra sede a não ser a de um licor desconhecido na Terra e que nem mesmo a farmacopeia celeste poderia proporcionar-me; um licor que não é feito nem de vitalidade, nem de morte, nem de excitação, nem de nada. Nada saber, nada ensinar, nada querer, nada sentir, dormir e sempre dormir, tal é actualmente a minha única aspiração. Aspiração infame e desanimadora, porém sincera.»

Charles Baudelaire

terça-feira, abril 26, 2011

As Liberdades Essenciais - Agostinho da Silva


«As liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio, ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura se for alargando; para o bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte de preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de produção e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de Espírito ou a liberdade de Espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma coacção de governo, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos.»

Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

domingo, março 20, 2011

Saudade - Teixeira de Pascoaes



"Se há no homem um sentimento superior, é a saudade. Por sua virtude, integramos em nós o espaço, o pretérito e o porvir; e alcançando os limites da consciência, descortinamos, lá em cima, uma nova Realidade, muito embora longínqua e indecisa... Pressentimo-la; e este pressentimento é o mais a que podemos aspirar. É o sinal humano. A saudade é lembrança e esperança. Camões adivinhou esta verdade. As lembranças dum bem ou mal futuro... A Saudade, incidindo sobre o futuro, é esperança ou desejo, como é lembrança quando incide sobre o passado. O primeiro elemento da Saudade é criador; o segundo fixa e perpetua (....)"

Teixeira de Pascoaes, "Livro de Memórias"

quarta-feira, março 16, 2011

"Alchimie de la douleur" - Charles Baudelaire

Alchimie de la douleur

L'un t'éclaire avec son ardeur,
L'autre en toi met son deuil, Nature!
Ce qui dit à l'un: Sépulture!
Dit à l'autre: Vie et splendeur!
Hermès inconnu qui m'assistes
Et qui toujours m'intimidas,
Tu me rends l'égal de Midas,
Le plus triste des alchimistes;
Par toi je change l'or en fer
Et le paradis en enfer;
Dans le suaire des nuages
Je découvre un cadavre cher,
Et sur les célestes rivages
Je bâtis de grands sarcophages.

 Charles Baudelaire

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Bussaco



Bussaco é um mar
imenso sem fim...

O Abismo que outrora
reluzia do poço-fundo,

É a Morte que lhe impõem...
a Esperança quase-perdida...

Ontem era um Mar,
verde, sem fim...

Hoje, é uma clareira,
ferida, aberta e moribunda.

Onde andarás tu amanhã,
Ó Mar verdejante sem-fim?...

Francisco Canelas de Melo
Bussacrum, 24.II.MMXI

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

"O Poeta é soberanamente inteligente, é a inteligência por excelência; e a imaginação é a mais científica das faculdades, porque só ela compreende a analogia universal, ou o que uma religião mística denomina a correspondência."

Charles Baudelaire