terça-feira, dezembro 15, 2009

A Nefertiti



A Voz liberta,
a prisão que voa
ao som de uma gaivota,

A voz imortal que clama,
ateia e
incendeia,
com o ardor d´um
Desejo

O Céu, o Mar e
O Inferno.

O mar que derramas
o mar que clamas
e que transbordas em teu olhar

É o desejo d´um futuro
de saudade (I)mortal
de (in)temporal sonho

És memória d´um Futuro,
de um sonho do Todo-Mundo,
És chama purificadora

Mas…
Mas…
Mas…

O intemporal que fez mortal,
a dor que te fez ardor,
Purifica-te pelo Fogo,
num Fogo de Bel.
(Beltaine)


François de Sainte-Colombe

terça-feira, dezembro 08, 2009



Diz-me onde andas,
Perdida no sonho ou na ilusão da vida?
Diz-me onde vives,
Na Imortalidade perdida ou na loucura destemida?

Diz-me,
Alma reluzente,
de mel cintilante,

Diz-me,
que distância?
que caminho?
que monstruoso infinito que nos separa....?!

segunda-feira, novembro 16, 2009

Todo o começo é involuntário
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.

A espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
"Que farei com eu esta espada?"
Ergueste-a e fez-se.

Fernando Pessoa

sexta-feira, setembro 18, 2009

Poeta pecaminoso,
poeta duvidoso,
caridoso
e invejoso
de uma vida não-Poética...

Poeta sonhador,
remador
ou velejador,
plantador e
agricultor
de naus-voadoras

baús de sonho
em que se vive
a prisão d´um Amor-Poema.


Francisco Canelas de Melo



Na Floresta (perdida)
do nosso Ser,
cresce vegetação abrupta,
cresce um desejo
inconstante
de te beber,

Águas cristalinas,
que espelham
a imensidão do nocturno
estrelar

Sede implacável,
incompreendida,
salgada
e doce,
de amarga
adstringência
que me adormece
a dor...


Francisco Canelas de Melo

A Poesia é morta...
O Poeta para além
do Poeta; o Homem
cativo,
aprisionado ao
tudo-Mundo.

Já não me sinto
Poeta,
místico,
ou profeta...

A Poesia é Voz
morta,
palavra apagada
num estado
pós-sonhado.

Angústia de invisível
tinta,
gritando em pena
afiada

Penetrante em papel-abismo
para além-vida,
além-sonho,
além Poeta-invisível!

Francisco Canelas de Melo

segunda-feira, setembro 07, 2009

Diário do Camiño - parte IV "Quero"

Quero escrever, e não me deixam
quero pensar, e não me deixam
quero..., mas o mundo não me deixa

Quero remar
numa barca sem remos,

Quero velejar
num navio sem velas,

Quero caminhar,
descalço,
(sem andar)
sentindo o trepidar
do Mundo.

Diário do Camiño - parte III "Porriño"

Terra das mulheres bonitas
onde olhos sensuais
devoram
o simples caminhar
de um peregrino

Há em tudo
forma,
um exotismo
quase erótico
que alimenta
a urbana mente

Na Floresta,
junto ao regato
caminha em Paz
o que vive
sem errância

No crepúsculo
diurno,
onde se ergue
o tal nocturno luar,
vive peregrino
sem destino
a caminhar...



Diário do Camiño - parte II

O dia ainda claro
esconde-se
e encobre-se
sob o horizonte

O cansaço já
é morto
e deposto
no romper
da Alvorada...



Dia da Lua, 27 de Julho de MMIX

Diário do Camiño - parte I

O Caminho nem sempre é fácil,
o Caminho é árduo,
sinuoso
e profundo

Hoje,
esta noite iniciarei mais uma demanda
em busca da minha verdadeira essência

Amanhã,
trilharei parte de mim,
o caminho é bruto,
e eu, Pobre Tolo,
cansado não estarei
em busca
de Destino,

Estou em Valença do Minho,
tenho o rio à minha fronte,
o Rio do Esquecimento.

Hoje,
caminharei nocturno
pelo rio do esquecimento,
esquecerei
e irei renascer

Não sei o que nascerei de novo,
se serei melhor,
se serei pior,
diferente, de certo, serei

Hoje,
irei sonhar,
(possivelmente acordado)
algo me espera,
algo me aguarda,
talvez uma passagem
por Tuí,
outrora Portuguesa.


Dia do Sol, 26 de Julho MMIX

quinta-feira, julho 23, 2009

"A Vós que me tiveste amor,
não olhai para a vida que perdi,
mas para aquela que comecei."

Santo Agostinho

sexta-feira, julho 17, 2009

"Os historiadores desviaram-nos, talvez, mais do que os outros, obrigando-nos quase a aceitar, não a verdade, mas as suas verdades..."

Louis Charpentier

terça-feira, julho 07, 2009

"O poeta vive só,
livre, peremptório, claro,
em estreita unidade com o corpo:
barro plástico para o Todo-Poderoso
esculpir a alma e o espírito

O poeta avança sobre o caos e as trevas,
contraditório, puro, sábio,
a sua vida está envolta em beleza:
o lustre opalino do pescoço das pombas,
os amigos imprevistos,
uma família espalhada plo mundo,
o Sol, a Lua, os gatos e as árvores

O poeta embriaga-se com água,
hidromel, chá de menta, ou súbito perfume
E inspira-se no ar d´atmosfera sagrada:
relê, Moisés, Cristo Jesus e Muhammad"

António Barahona

sábado, junho 20, 2009

"Aprende dos filósofos a procurar as causas naturais em todos os acontecimentos extraordinários;
e quando faltarem as tais causas naturais recorre a Deus."

Conde de Gabalis

quarta-feira, junho 17, 2009

"A iniciação comporta 3 tipos: 1 - a conquista da consciência etérica, para devido contacto entre o astral e os sentidos; 2 - A sublimação dos sentidos, misticamente; 3 - O conhecimento das coisas divinas, ou do lado divino das coisas."

Fernando Pessoa

sábado, junho 13, 2009

"Substituamos as personalidades à personalidade. Que cada um seja muitos. Basta de ser para si a primeira pessoa do singular de qualquer pronome ou verbo. Sejamos a Pessoa Absoluta do plural incomensurável."

Fernando Pessoa

domingo, maio 17, 2009

Saudade - D. Francisco Manuel de Melo



Serei eu alguma hora tão ditoso,
Que os cabelos que amor laços fazia,
Por prémio de o esperar, veja algum dia
Soltos ao brando vento buliçoso?

Verei os olhos, donde o sol formoso
As portas da manhã mais cedo abria,
Mas, em chegando a vê-los, se partia
Ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso?

Verei a limpa testa, a quem a Aurora
Graça sempre pediu? E os brancos dentes,
Por quem trocará as pérolas que chora?

Mas que espero de ver dias contentes,
Se para pagar de gosto uma hora,
Não bastam mil idades diferentes?


Dom Francisco Manuel de Melo

Da Arrábida - Frei Agostinho da Cruz

Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo:

Aquela saüdade que me manda
Lágrimas derramar em toda a parte,
Que fará nesta saüdosa, e branda?

Daqui mais saüdoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro, mais dourado,
Pelos montes, nascendo, se reparte.

Aqui sob-lo mar dependurado
Um penedo sobre outro me ameaça
Das importunas ondas solapado.

Duvido poder ser que se desfaça
Com água clara, e branda a pedra dura
Com quem assim se beija, assim se abraça.

Mas ouço queixar dentro a Lapa escura,
Roídas as entranhas aparecem
Daquela rouca voz, que lá murmura.

Eis por cima da rocha áspera descem
Os troncos meio secos encurvados,
Eis sobem os que neles enverdecem.

Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?

Respondem-me em segredo mil segredos,
Cujas primeiras letras vou cortando
Nos pés doutros mais verdes arvoredos.

Assim com cousas mudas conversando,
Com mais quietação delas aprendo
Que outras que há, ensinar querem falando.

Se pelejo, se grito, se contendo
Com armas, com razão, com argumentos,
Elas só com calar ficam vencendo.

Ferido de tamanhos sentimentos
Fico fora de mim, fico corrido
De ver sobre que fiz meus fundamentos.

Ali me chamo cego, ali perdido,
Ali por tantos nomes me nomeio,
Quantos por culpas tenho merecido.

Ali gemo, e suspiro, ali pranteio;
Ali geme, e suspira, ali pranteia
O monte, e vai de meus suspiros cheio.

Ali me faz pasmar, ali me enleia
Quanto colhendo estou da saüdade,
Que por toda esta terra se semeia.

Ora me ponho a rir da vaïdade,
Ora triste a chorar com quanto estudo
Erros solicitei da mocidade.

Tudo se muda enfim, muda-se tudo,
Tudo vejo mudar cada momento:
Eu de mal em pior também me mudo.

Soía levantar meu pensamento
Assentado sobre estas penedias
Duras, eu duro mais nelas me assento.

Punha-me a ver correr as águas frias
Por cima de alvos seixos repartidas,
Que faziam tremer ervas sombrias.

As flores, que levava já colhidas,
Passando pelos vales enjeitava
Por outras doutra nova cor vestidas.

O livre passarinho, que voava,
Cantando para o céu deixando a terra,
Da terra para o céu me encaminhava.

Cuidei que se esquecesse nesta Serra
A dura imiga minha natureza;
Mas donde quer que vou lá me faz guerra.

Oh! quem vira naquela fortaleza
Rodeada de fogo de amor puro,
Daquele amor divino esta alma acesa!

Quão firme, e quão quieto, e quão seguro
No campo se pusera em desafio!
E quão brando sentira o ferro duro!

Mas se agora de mim me não confio,
Se fujo, se me escondo, se me temo,
É porque sinto fraco o peito frio.

Alevantam-se os mares; e pasmo, e tremo:
Vejo vento contrário, desfaleço,
A corrente das mãos me leva o remo.

Confesso minha culpa, bem conheço
Que por mais graves males que padeça
Menos padecerei do que mereço.

Mandais, Senhor, que busque, bata, e peça,
Eu busco, bato, e peço a vós, Senhor,
Sem haver cousa em mim que vos mereça.

Com os braços na Cruz, meu Redentor,
Abertos me esperai, co lado aberto,
Manifestos sinais do vosso amor.

Ah! quem chegasse um dia de mais perto
A ver cos olhos de alma essa ferida,
Que esse coração mostra descoberto!

Esse, que por salvar gente perdida
De tanta piedade quis usar,
Que deu nas suas mãos a própria vida.

A sangue nos quisestes resgatar
De tão cruel, e duro cativeiro,
Vendido fostes vós por nos comprar.

Padecestes por nós, manso Cordeiro,
Pisado, preso, e nu entre ladrões,
Ardendo o fogo posto no madeiro:
Arçam postos no fogo os corações.

Frei Agostinho da Cruz

Fernando Pessoa - “NOTA BIOGRÁFICA” DE 30 DE MARÇO DE 1935



Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa.

Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.

Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi Director-Geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus.

Estado: Solteiro.

Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.

Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dt.º, Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa).

Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas.

Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: «35 Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems I-II» e «English Poems III» (em inglês também), 1922, e o livro «Mensagem», 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria «Poema». O folheto «O Interregno», publicado em 1928, e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.

Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.

Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberdade dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário.

Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.

Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.

Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação».

Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.

Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos –a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania”.

Lisboa, 30 de Março de 1935 [no original 1933, por aparente lapso]
Fernando Pessoa

In: O mistério da Boca-do-Inferno: o encontro entre o Poeta Fernando Pessoa e o Mago Aleister Crowley, Lisboa: Casa Fernando Pessoa, 1995 (retirado do site da Casa Fernando Pessoa)

As compras da Feira do Livro 2009

Ordens Militares - Guerra, Religião, Poder e Cultura, Actas dos III Congresso das Ordens Militares, Palmela, 1998, Colibri.

Sonetos e Elegias, Frei Agostinho da Cruz, Hiena, 1994.

Cândido, Voltaire, Guimarães Editores,1999.

À Memória do Presidente-Rei Sidónio Pais, Fernando Pessoa, Editorial Nova Ática.

Um Grande Português ou A Origem do Conto do Vigário, Fernando Pessoa, Editorial Nova Ática.

O Provincianismo Português, Fernando Pessoa, Editorial Nova Ática.

O Fenómeno Religioso e a Simbólica, Aarão de Lacerda, Guimarães Editores, 1998.

O Meu Livro Secreto, Francesco Petrarca, Planeta Editora, 2008.

A Vida de Dante, Giovanni Boccaccio, Planeta Editora, 2007.

A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários, Pinharanda Gomes, Hugin, 1999.

O Caso Clínico de Eça de Queiroz - Contributo para a sua Patobiografia, Irineu Cruz, Caminho, 2006.

Titânia - História Hermética em Três Religiões e um só Deus Verdadeiro com vistas a mais luz como Goethe queria, Mário Cesariny, Assírio & Alvim, 1994.

A Caminho de Santiago - Roteiro do Peregrino, Conde de Almada, Lello Editores, s/d.

sábado, maio 16, 2009

"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."

Livro do Desassossego - Bernardo Soares

quarta-feira, abril 29, 2009

Em tempos sonhei-te,
Admirei-te,
Amei-te,

A vida infortuita
que do sonho se faz Vida,
vida vivida,
vida sofrida,
vida renascida,
que do sonho se faz Vida?

Oh Imortal,
Oh Intemporal
Mestre do Tempo

Velejas em mim,
em mar de lágrimas,
mar solitário,
obscuro,
recatado,
preso ao abismo do meu Sonho

Por que te vais, Ó Encoberto?

Se do sonho renasci,
se do sonho cresci,
se do sonho vivi,

Busco-me,
Procuro-me,
Navego-me,

Sou Marinheiro (s)em Mar
(de lágrimas)

Mar Salgado,
agridoce,
que teimas em navegar.


Francisco Canelas de Melo
A luz ténue
duma vela
cega-me
o olhar,

olho-me,
vejo-me,
observo-me,

ao som d´um espelho,

miro-me,
contemplo-me,
num Mar sem temp(l)o
onde a saudade aporta
no além-mar

no sonho do Argonauta.


Francisco Canelas de Melo
Screvo à luz das velas,
como eu adoro,

É máquina do Tempo,
é arte que esconde a Arte,

como eu adoro,
uma luz ténue
mas profunda
que dança ao som da música,
ao som da voz que clama
(como eu adoro)
que irrompe em meu Ser,

Chama que baila dolente
que harpejas o Amor d´uma Musa.



Francisco Canelas de Melo

A vida é mais curta do que pensas

O viver é curto
na hora da despedida

mas...
é imortal de sentimento

é a voz que ecoa dentro de nós,
é o "Fado" da Gamba

Voz Celestial

arte que esconde a Arte,
que esconde o símbolo,
alfabeto analfabeto,

é imortal de sentimento

é mortal comum
que sorri a cada instante

É o Pobre-Tolo.


Francisco Canelas de Melo

sexta-feira, abril 24, 2009

"Brevíssimo" Historial do Santo Condestável




No próximo domingo, dia 26 de Abril, haverá em Roma a Canonização do próximo Santo Português, irá ser conhecido como S. Nuno de Santa Maria, mas é conhecido desde a sua morte como Santo Condestável. É uma personagem essencial na história de Portugal, na dinastia de Bragança, a sua filha D. Beatriz casou com um filho do Rei de Portugal, Dom João I, e deram origem a Casa de Bragança, de onde descendem os Reis de Portugal e os Imperadores do Brasil. O D. Nuno Álvares Pereira era filho do Prior da Ordem do Hospital em Portugal e neto do Arcebispo de Braga, desde muito cedo viveu sobre os padrões da Cavalaria, professava a Fé, Esperança e Caridade, defendida os princípios Justiça, Prudência, Temperança e Fortaleza com afinco e vontade inquebrável. Foi armado Cavaleiro ainda muito novo, e vivia rodeado das lendas da Tavóla Redonda e da busca do Santo Graal. Foi obrigado pelo pai a casar, pois desejava manter-se Casto, tal como o herói Galahad (ou Galaaz). Quando em 1383 o rei de Castela invadiu Portugal, juntou-se em torno do Mestre da Ordem de São Bento de Aviz que era um dos irmãos do anterior Rei de Portugal, na defesa do Reino. Sempre teve fama de ser Justo, um verdadeiro defensor da Fé. Mais tarde, e após ter garantido a independência de Portugal em 1385, e ter participado na primeira viagem marítima portuguesa na conquista de Ceuta em 1415, dedica-se à construção do Convento do Carmo em Lisboa. Obra que ele prometera construir caso a batalha lhe fosse favorável. Com a morte da mulher e mais tarde da filha, sentindo que a sua missão de defesa do reino estava cumprida e como mais nada lhe apegava ao mundo material, largou tudo e ingressou na Ordem do Carmo, onde viveu em voto de pobreza total (nessa altura era o homem mais poderoso do Reino além do próprio Rei). O Povo sempre o acariciou e venerou já no final da sua vida como Santo. Quando morreu, no dia 1 de Novembro de 1431, não tinha mais que o hábito do seu corpo e pediu para ser sepultado no chão, em campa simples e sem qualquer honraria. No seu túmulo, construído posteriormente encontrava-se o seguinte epitáfio: "Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo."



Nota: pequeno texto de apresentação do Santo Condestável a um Amigo da Abadia de Grottaferratta, Roma.

quinta-feira, abril 23, 2009

Ao Monsieur de Sainte-Colombe


O arco desliza
suave, melancólico,
dolente,

suave e forte,
mágico e (in)perfeito

as lágrimas
(es)correm,
mágicas
salgadas,
mergulham em nós...

Ouvintes do Passado
em Futuro dispersos,
incerto ao rumo
aprisionado ao som
d´um Fado,
de saudade (I)mortal
(Imtemporal Alma)

Ao som da Gamba
oiço o Uni Verso,
a Pátria Celeste,
o Centro do Todo-Mundo...

Aos Mestres
minha oração,
escrita ou poesia,
música ou paixão

Que imortal nota (intemporal)
vive em mim?


Francisco Canelas de Melo

sexta-feira, abril 17, 2009

Rosa Mística

"Está aqui todo o mistério do amor. Se dois seres, amando-se, forem um só, harmonizando o que neles é contrário, serão como esta árvore e criarão vida e beleza. Darão a Deus uma cadeia mais e, noutras vidas, certamente voltarão a encontrar-se. E um dia estarão eternamente juntos e serão mais do que humanos, mais do que anjos, um dia serão Deus."

"Anjo Branco Anjo Negro" de António Quadros
"Tomem a minha vida como exemplo! Que fiz eu da rosa mística que encontrei e abandonei? Encontráça e perdê-la --, que significou realmente na ordem da eternidade? De grande mal poder-se-á extrair grande bem? é esta, leitor desconhecido, é esta a minha pergunta à esfinge, é esta a pergunta que faço com todo o meu ser, arriscando-o numa única cartada final, num único trunfo. De grande mal poder-se-á extrair grande bem? "


"Anjo Branco Anjo Negro"
de António Quadros

domingo, abril 12, 2009


"O verdadeiro conhecimento baseia-se em tolerância verdadeira.

da tolerância verdadeira vem a compreensão plena, e a verdadeira compreensão dá nascimento à paz que ilumina e purifica."

Nicholas Roerich


Nosce te ipsum

"Conhece-te a ti mesmo"

sábado, março 21, 2009

Opúsculo do Lug(ar) - Ensaio d´um Livro

Caros Amigos,

Aqui fica um "ensaio" de um opúsculo:






Quem sabe se um dia o ensaio passará a Livro...

sábado, março 07, 2009

Esta Contínua Saudade

Esta contínua saudade
Que me afasta do que digo
E me deserta do amor
Tem uma voz e uma idade
Contra as quais eu não consigo
Mais força que a minha dor


Esta contínua e perigosa
Saudade que prende a mágoa
E enfraquece o entendimento
É uma fonte rigorosa
Onde eu bebo a angústia d´água
Que me assombra o pensamento


Mas para um tempo tão puro
Como é o de esperar
O sonho no olhar que trazes
É que eu no vento procuro
Todo o bem que posso dar
Em todo o mal que me fazes


Vasco de Lima Couto

sexta-feira, março 06, 2009



O POETA
é um asceta
que renuncia ao oiro do mundo
mas não aos frutos da terra


António Barahona
in Rizoma
A escrita é reflexo do estado d´Alma do Poeta ou reflexo da Sua Busca...


FCM
O poeta é Avatar
raramente se dando a conhecer
vital leitura descodificada


António Barahona
in Pátria Minha


"Entre o Oriente e o Ocidente, por estratégia teológica,
perseguia a via iniciática sem remover montanhas
apenas muride dissipado em trevas e trovas"


António Barahona
in Pátria Minha

sexta-feira, fevereiro 20, 2009



Há um tudo-mundo
além de ti,
além de mim,
de vós e nós,

Há um sorrir profundo
na sombra do mundo

Há luz intemporal
como farol do mundo

Onde na noite escura
revela o mistério,
o véu da vida.


Francisco Canelas de Melo
O Poeta anseia
libertação,
mas a sua condição
é para além
da vontade:

"Quem quer passar o Bojador,
Rem que passar além da dor." (FP)

O Poeta carrega
uma cruz em
seus dedos...

Imagina a longa
Caminhada da Vida
num simples verso,
é Homem sem o ser,
narrador da vida.


Francisco Canelas de Melo
Poeta é Ser
Caído, desgraçado
e maltratado,
é habitante do
beco escuro,
demónio da sarjeta,
que vive vivendo
sem morrer
a cada dia.

Francisco Canelas de Melo
A Voz do coração
geme de dor,

A dor explode em Amor,
transmuta-se em dor,

O Homem vive do Ar,
respirar profundo,
(insuflar do peito)

Tu, Homem grande
de coração profundo,
Ergue a tua vita
onde Amor é
mais que o Sonho,
É a Vida.


Francisco Canelas de Melo
Jaz vivo,
a dormir,
o Velho caído
da vida velhinha,
da vida sofrida...

É o fado do mundo,
d´um Português
quase-defunto
que renasce em
cada Ser.


Francisco Canelas de Melo
O Poeta caminha,
só, perdido, por
encontrar

É vagabundo
do Mundo

É Ser surreal
é a inexistência
no Ser

Onde uma voz clama
ao seu ouvido:

"A Sudez do Mundo!"


Poeta é incompreensão,
é interpretação mundana,
"rimatória" querida,

Poeta é a voz do
Verbo
transciptor d´Alto,
transmite a
ignorância, a
voz calada, silenciosa,
a voz Divina.


Francisco Canelas de Melo

Confutatis maledictis

O mundo,
a crise anunciada

Trevas profundas
onde reina o fel
sobre o mel da vida

ode ultrapassada
ao poeta decadente
a memória do morto
ressuscitado

a morte que vive
em vida que morre

Lacrimosa (Kv.) do Mundo

onde o sal
de tuas lágrimas

purifica a dor,
crise do submundo.


Francisco Canelas de Melo

A Inspiração

sexta-feira, fevereiro 13, 2009




Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:

Não quero funeral comunidade,
que engrole sub-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

"Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."

Manuel Maria Barbosa du Bocage


Já Bocage não sou!... À cova escura

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!


Manuel Maria Barbosa du Bocage

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

As traduções são como as mulheres
as que são fiéis raramente são belas,
as que são belas raramente são fiéis.

Roy Campbel

domingo, fevereiro 08, 2009

ACEITA o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.

Se há outras matérias e outros mundos -
Haja.

Alberto Caeiro

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Tabacaria de Fernando Pessoa por João Villaret

Dicionário Setúbalês-Português

Português, o Mirandês e agora temos a linguagem do novo milénio, o terceiro dialecto luso


O Setúbalês!

Um dialecto com potencialidades para se tornar numa Lingua Universal, ou seja, para lá do Pinhal Novo.


Dicionário Setúbalês-Português

· Sóce: Amigo/Senhor/Gajo

Ôôlha, q'é isse, pá sóce..? : Está enganado, Senhor
Hóme: Homem
Denpé: De pé

· Sermos – somos

Sêrrem - São
Érrem - Eram
Fôrrem - Foram
Virrem - Viram ou Vêem ou Vêm (dos verbos Ver, Vir e Virar)
Viérrem - Vieram

· Áùa, abrre já a boca toda: Isso não; ou: Assim não pode ser

· Que peix' é? - O que é que se passa?; ou O que é isso?

· Nha mãe: Minha mãe;

Áh, nha mãe: Ai, minha mãe
Á da nha mãe: Na casa da minha mãe; ou - Á casa da minha mãe;

· Ápá parriga ia-te pu grrel acima: Rapariga, quero fazer amor contigo

· Tá o calorr à patada: Está muito calor!

· Tá o calorr a môntes: Está muito calor!

· Desempacharr: Não atrapalhar/facilitar

· Enzole – anzol;

· Ínzol - anzol;

· D'ínzol - com anzol

· Arrepêze – arrependido

· Ganda espiga: grande confusão, grande bronca

· Ganda caldeirada - grande confusão, grande bronca

· Ápá, p'nherrinhe da catôa - Maneira de chamar careca a alguem

· Miga já passô a càminéte - Amigo já passou o autocarro

· Dá um jeitinhe, miga - Com licença

· Dá aí uma teca - Dá-me um bocado

· Amandar - eu amando, tu amandas, ele amanda, nós amandamos, vós amandais, eles amandam... sempre ouvi dizer assim mas não aparece no dicionário....
ex: Amanda a bola p'rá frrente.

· Virr' á corrida - quando alguém vem a correr

· Vai andand'mano! - Não me chateies

· Sóce, salga mas é isse : Esquece essa ideia

· Ápá, ganda vase da merrda! - Tens mau caracter.

· Carramel – Nome dado aos habitantes de Palmela

· Cagalête - Nome dado aos habitantes de Sesimbra

· Camone – Estrangeiro/Forasteiro

· Atrracarr de pôpa: Praticar sexo anal

· Picolho, Barron, *******, Panlêre, Pedre Prroença, etc... - Homosexual

· Vá pá ré, home - quando se pede a alguém para se chegar atrás e arranjar mais espaço

· Vai-te emborra chôq' que fazes a àgua negrra - Quando alguem é indesejado

· Cherra à Porrtucel - Cheira mal

· Feia(o) como ó batelão da Secil - Horrível / Gordo(a)

· Embarrcado: Trabalhador da Marinha Mercante

· Jgáde à viva - estar atento

· Tá garruaç - ta frio

· Tá aqui um ganda cachão: a coisa está a ficar agitada

· N' alevantes cachão: deixa-te estar quieto

· Ganda batajol: Uma pedra grande

· Tá ralasse - Está bom, está descansado

· Magalhas pó ganhas - Sou o ultimo a jogar/fazer - expressão pra jogar ao berlinde

· Apá Pintelhe – Miúdo

· Murraçarr- Orvalho, chuva miudinha

· Tá Bebd - Está Alcoolizado

· O Gaje é má rés - O Gajo é Ruim

· Levas um murre pús bêces q`até ficas a fazêrre dóminó pós dôs lades: Levas um murro na cara que até ficas esticado no chão

· Barraquêrre - Pessoa que arma confusão

· Ôôlha, na tarrda muito, tás aqui tás ali!: Vai-te embora.

· Já tás mazé a porr muita mante'ga do pão: Já estás a abusar

· Na asses má bogas c'ú lume tá frraque - (tem o mesmo significado de Abe já a boca ou Aua Sóce)

· Na t`arremes em enzole - não me chateies

· Jogarre aos bonecos- jogar aos matraquilhos.

· Deixarr a boca em chau - Ficar com os lábios rebentados por comer figos ainda mal maduros.

· Larrgar ferrado – envenenar

· Pérré - maré vazia

· Vidrrinhos - Tipo que usa óculos

· Serrem tantas cagente até nos enrolarmos todos - Eram tantas que não conseguimos fazer tudo.

· Bola de catechumbo- bola de futebol em couro

· Zéi o Marr tá Brrab - José, o mar está agitado

· Gasoline - embarcação de pesca

· Aparra-lapes - Apára-lápis (peixe usado para para farinhas e adubos

· Nã mexas no tempo q senão ainda chove: Não mexas que podes estragar



E como não podia deixar de ser os discursos que ficaram conhecidos:

· Eles errem trrinta agente erremos só vinte nóve más eu...
Eles darr darrem mas levarrem que se fartarrem.

· Tens más córrenes nessa cabeça q`uma saca de carracóis

· Orra ápá soçe deves andare és esquecide quand endavam ca lata de trrês bicos - É o que a malta mais velha diz aos 'novos ricos' com mania, a lata de 3 bicos era quando antigamente muita gente ia á sopa dos pobres e levavam normalmente uma lata grande de conserva.

· Algirra mete os putos na barraca que vai haverre mocada

· O que tu querrias erra um rabd` arraia plos enterrefolhos acima......
acho que não neceessita de tradução

· épa parriga ja deste comer aos passes é que eu fui ao medico da prosta na tive tempo

Apá parriga qué inse, hã? Que pêxe é?
Da prosefice ou da meia tona?
É masé da profundurra!!

· Iste agorra tá tude perrdide, atão na vês essas raparrigas cagorra só querrem é andarr com este e c'aquele e a tomarrem a 'pírrela' (pílula) ou o que é insse...!

· Boa nôte minhas senhorras e mês senhorres
há aqui um grrupo de soces que nã sã soices da Onião e tão assentados
É só pá avisarr os soces que nã são soices pa se alevantarrem, e os
soces que são soices pa se assentarrem.
(Aviso de um ex presidente da União Setubalense num dos muitos e famosos Bailes daquela instituição.):

Tradução
Boa Noite, minhas senhoras e meus senhores
há aqui um grupo de pessoas que não são socios da União e estão sentados
É só para avisar as pessoas que estão sentadas e não são sócios para se levantarem
E as pessoas que são sócias para se sentarem.

Mais uma pérrela sadina

Local : Caldeira , campismo selvagem em vésperas das festas de Troia

- Ai, ai, ai Arrenalde,.... ai Arrenalde,... ai Arrenalde......tirra, tirrra tirrrrrra , tiiiiiiiiirrrrrrrraaaaaaaaaaaa, tem grrãsinhe d`arreia.......


Fonte:
http://www.forumvfc.com/viewtopic.php?t=6876