quarta-feira, dezembro 31, 2008
Guardador de Rebanhos - Fernando Pessoa
quarta-feira, dezembro 24, 2008
quinta-feira, dezembro 11, 2008
Johannes Chrysostomus Wolfgang Gottlieb Mozart
do sonho
do mundo
Ser perdido
no mundo
dos Mundos
Pobre creança
acorrentado por tudo
pelo mundo
a vida escasseia,
a morte clama
a vida eterna,
que é
a guardada chama.
Francisco Canelas de Melo
o grito de morte
que vive o ultimo suspiro
gritas fundo
da cova escura
receias o mundo,
futuro do sonho
de ver mundo e fundo
sonho e tudo
Mestre oculto,
negro, cinzento, escuro
revelas tudo,
a sombra que é tudo
à luz do mundo.
Francisco Canelas de Melo
J.S.Bach - Thema Fugatum BWV 582
sombra de luz
renasce um ser,
anjo caído,
acorrentado pelo mais pérfido
desejo
pelo mundo duro
pelo mundo surdo
e mundo que ignora o ser
errante
por ter
um sonho
de azul profundo.
Francisco Canelas de Melo
A Johann Sebastian Bach
A Saudade, aperta,
a fome devora-me,
sangro pela raiz
matriz do meu peito
alma chora ao som do Mestre
o Soar agudo
profundo
ressoa em mim
fonte de luz que és tu
na arte da fuga
renasce em mim
cada nota,
cada ser
Ser profundo
é erguer do escuro
a pedra oculta
é ser mago sem magia
poeta sem poesia
sangue que me cospes
que purgas meu corpo
de dor
de magia
e tristeza
arde poeta
na eterna sepultura,
cremado pelo calor
d´um amor
Foge negro escuro
a luz aproxima-se
arde e brilha
Som celestial
oiço-te e busco
a eterna voz, nota
corda
que um poeta tocou.
Francisco Canelas de Melo
quarta-feira, dezembro 10, 2008
sexta-feira, novembro 07, 2008
Saudação aos Quatro...
A Grande Ursa
É o Útero da Terra
A viagem à escuridão profunda,
O Salmão voa
Com Sabedoria p´las águas
Rumo à morte
Predestinada,
O Falcão paira,
Flutua
No imenso Mar
Suspenso,
E aquele Ser nocturno,
De focinho pontiagudo
Ergue as presas
Ao luar,
Nele corre o Fogo
Como lava escorrendo
Na ebulição
Do (Re)nascimento.
Francisco Canelas de Melo
quinta-feira, novembro 06, 2008
Santo Condestável

Que aureola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.
Sperança consummada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
Fernando Pessoa
terça-feira, novembro 04, 2008
Jaz aqui morte
onde vive o morto
que é esperado,
desejado em si
p´lo Mundo
esperançoso
El Rei o encoberto
II.
A viagem d´Alma
pela barca de Caronte
ultrajo o fundo
mundo
onde Ares
Maléfico
devora tudo
Prometeu mais fogo
alumia ao mundo
fundo
onde reino castigo
espera adormecido
III.
Rápido como Mercúrio
em derradeira ebulição
no fundo ser
renasce novo,
completo
e um pouco mais
encoberto
e descoberto
no oráculo do mundo
Virgens, puras
onde enxofre arde
na penúria,
véu escarlate,
rubro,
denso e mudo
ascende aos céu
num fogo-carro
zEUs, EUs,
EU,
Imagens do sonho,
sono divino
de puritana ascese
onde Ego morre
e renasce,
Puro, Sensível
e Doce.
Francisco Canelas de Melo
quinta-feira, outubro 30, 2008
União
Palavra Sagrada entre o divino
e o profano,
entre o Alto e o baixo, semelhantes, próximos
e distantes.
O Homem separa-se da origem num rumo
sem fim
(Onde o infinito é somente o fim)
na busca do ser
enfrenta-se a si,
onde o medo é superado,
onde o ódio é ignorado,
onde o ego morre e renasce
o novo Homem,
comungado à origem e ao fim,
ao Alfa e Ómega,
À Existência Divina
por fim atingida.
Francisco Canelas de Melo
terça-feira, outubro 28, 2008
Louis-Claude Saint-Martin
Albert Einstein
sábado, setembro 27, 2008
trespassa o coração
como um raio
fulminante, profundo
de uma lâmina
de dois gumes
onde o peso-justo
se entrega
às mãos
do executador,
o carrasco do amor...
Francisco Canelas de Melo
segunda-feira, setembro 22, 2008
S.I.
quinta-feira, setembro 11, 2008
O amor só se revela
Quando o perdemos
Ou quando não o temos
O amor não pode ser possuído
A voz do amor luta
Contra a solidão
Vive nas trevas
E nas trevas é o seu lugar
Pois só com a esperança de alcançar a luz
Existirá e sobreviverá o Amor…
Francisco Canelas de Melo
quinta-feira, agosto 14, 2008
Batalha de Aljubarrota

O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.
Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.
Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.
Fernando Pessoa
terça-feira, julho 29, 2008
correm p´lo mundo
buscando heróis,
eternos caídos,
estes varredores do mundo
homens, simples homens
guardados pelo Deus,
por Agartha,
neste panteão de hidromel,
mulheres, contos e batalhas,
onde corre
o vinho místico de mel,
o fel diurno
e nocturno céu.
Francisco Canelas de Melo
domingo, julho 27, 2008
onde renasce
a cada dia
o suave aroma
do desejo,
o pobre marabu sonha...
Sonha com o Mundo,
com o volátil Éter da Vida,
o visível e intocável
o Sopro Divino.
Nas Strelas vê
quase futuro,
passado e presente,
este intemporal tempo
em que o Sonho do Mundo
se reflecte
nos esmaltado espelho
negro como o Céu
onde a cintilante Lux
descreve tudo.
Francisco Canelas de Melo
domingo, julho 06, 2008
Os Conjurados
esta força de sonhar, de ser, de amar,
de um povo heróico, viril, mas não soberbo,
esta sede tão grande de cantar.
O passado e o futuro num instante,
que hoje seja, de novo, a nossa voz
que levou nas caravelas de um infante
a semente desta fé que vive em nós.
Contra o jugo do espanhol a nossa raça
que Deus quis, a Pátria é, o Rei comanda.
Esta recusa de beber pela mesma taça,
esta jangada de que somos a varanda.
E amanhã, uma vez mais, ao sol primeiro
brilhará de novo o porto Ocidental.
Portugueses, povo nobre e marinheiro:
Amanhã também se chama Portugal!
Fernando Tavares Rodrigues
in Talvez Amanhã
uma ambição minha.
É a minha maneira
de estar sozinho..."
Fernando Pessoa
sábado, julho 05, 2008
a virtude
de me ter feito
imperfeito
sob ela talharei
meu caminho
gravarei meu sonho
e esculpirei
meus enganos
sou vivo e imperfeito
morto e quase perfeito!
Francisco Canelas de Melo
Nas areias desertas
do sonho,
no céu estrelado
infinito mar,
fumo o universo,
fumo o mundo
Este cachimbo amigo
é meu confidente,
ouve o sonho
ouve o mundo
nós, pobres sonhadores,
sonhamos juntos
a vontade de viver,
morrer e renascer
ao som da água,
do borbulhar
profundo
screvo ao ópio,
ao sonho do mundo
fumo a neblina
o haxixe da vida,
sonho e acordo,
sem ópio ou absinto,
o céu strelado
no mar tranquilo
aguarda...
...o nascer d´um
novo dia.
Francisco Canelas de Melo
terça-feira, julho 01, 2008
Cair,
Levantar,
Três verbos
que fazem a vida,
A vida caminha-se,
tropeça-se
e renasce-se...
A cada queda
a morte ergue o vivo,
a vida deita o morto.
A vida aprisiona
o homem
à gravidade do Mundo
O homem é pássaro
sem asas,
peixe sem barbatanas,
é o morto-Ser boiando,
ao som da corrente do fado
destinado,
cumpre-se a vida
a viver!
Francisco Canelas de Melo
veleja meu sonho,
aporta em meu peito,
desembarca em meu coração
o Sonho
de ver nascer Portugal.
Francisco Canelas de Melo
Braço d´Homem
Guitarra,
Voz d´Alma
Guitarra,
Teu Amor é maior
Guitarra,
Canta dolente em mim
Canta
a dor, a morte
a nostalgia
Canta
passado inglório
deste longo caminho
Canta
via d´Amor
Canta
do alto
do Penedo do Sonho
onde o Homem ama,
chora e ri
Canta
Coimbrão
Canta,
chora,
ama
e ri
Canta
Amor,
a tua eterna sepultura,
a vontade de morrer
e renascer
Canta
o silêncio,
a voz d´oiro,
a paz e a ressurreição
do morto
que renasce...
Francisco Canelas de Melo
sinuosa
e esguia,
longa e ambígua
É o caminho
a percorrer.
Francisco Canelas de Melo
domingo, junho 22, 2008
ao Luar
Vai sonhando
perdido
Com um
Mundo Divino
à spera
de Revelar
a Beleza inocente
d´um chilrar
Menino
à Espera de
Cantar...
Francisco Canelas de Melo
I.
Há em tudo
semelhança
entre o
Ganges
e o Sado
Há imortal vida
nos povos
circundantes
Há sonho feliz
de morrer
sob a corrente,
Mágica,
que nos conduz
a vida Eterna.
II.
Sob a protecção do sonho,
o respirar que insufla a vida,
neste areal de desejo,
a Vida caminha
intemporal à vida,
irreal ao sonho
É como o desaguar
intravenal
desta água correndo em mim
É como o rochedo erguido,
esse velho e imortal barbudo
que sorri ao nascer do sol,
que beija as ondas do mar
com um amor indelével
que une as duas pátrias do sonho,
Índia e Portugal...
III.
Neste denso arvoredo
nascido da força Natura
rompendo a pedra-mãe
pendura-se
no rosto do Rochedo,
Este velho penedo,
guardião de mistérios,
ouve o vento
confessar-lhe um segredo
Ao Zéfiro dizes
que a Luz Aparecida
vem do fundo da Terra
da Pátria (re)nascida.
IV.
Na Serra do Sonho,
na Mata do Silêncio,
vive Solitário
o monge esquecido,
do alto ama a Vida
do baixo contempla o Mundo,
Ora ao Divino,
À Mátria de Tudo,
Corre sozinho sobre o Mar,
A Alma Perdida,
A Alma Renascida,
d´um Poeta a Cantar.
Francisco Canelas de Melo
Arrábida, Julho de MMVIII
Proclamo ao vento,
A Guerra, o Amor
E a Paz...
Relato as
Vozes dos Deuses,
Histórias
Dos Imortais
Heróis
De imutáveis Mitos
Gerados
No salão
D´Odin!
Francisco Canelas de Melo
segunda-feira, junho 16, 2008
Isto
De julgarmos que somos sem sermos
E ficarmos vencidos
Nos ermos.
Isto
De recuarmos a Cristo
Com o sentimento humano
Dum ser profano.
Isto
De quedarmos confusos
Beijando as horas que rodopiam como fusos pelas ruas.
Isto
De pensarmos em mulheres todas nuas.
Isto
De meditar
De escrever
E de amar.
Tudo isto
È afinal viver
E sofrer
E matar aos poucos a centelha oferecida
Na despedida
Dum ventre que sangra.
António Barahona da Fonseca
in "Isto"
segunda-feira, maio 12, 2008
do Amor,
nascido sob
o calor
d´um raio
de Primavera
Sou a seiva
correndo
pelo tronco
acima,
o fluxo da vida
radiando
da profundeza
do Mundo,
Projectando a
plenitude Divina
na reunião
do Céu e da Terra.
Francisco Canelas de Melo
pairando pelo ar,
Flutuo ao vento,
boiando sem destino
entregue ao meu fado,
Sou vítima da gravidade,
caío redonda
sobre o leito quente
no ameno outono,
Em gélido ventre,
aguardo,
que o calor
profundo
me leve a
renascer...
Francisco Canelas de Melo
quinta-feira, maio 08, 2008
Versos de Ouro de Pitágoras
Respeita o juramento e os nobres heróis. Honra os defuntos e pratica todos os rituais libertadores em sua memória.
Venera o teu pai, a tua mãe e os teus próximos.
Escolhe alguém entre os homens e faz com que o teu amigo seja aquele que há-de brilhar pela sua virtude. Cede aos seus suaves conselhos, inspira-te nele. Nunca lhe queiras mal por qualquer pequeno erro, se fores capaz disso, porque a fatalidade pode por vezes modificar a vontade dos homens.
Fica a saber que é assim. Por isso empenha-te em dominar isto:
Em primeiro lugar o teu apetite, em seguida o teu sono, e depois os vãos desejos dos sentidos e o fogo da cólera.
Nunca faças o mal, com outros ou sozinho.
Acima de tudo, atenta nisto:
Respeita-te a ti mesmo.
Sê justo nos teus actos e nas tuas palavras.
Não inicies nenhuma acção sem ter reflectido.
Lembra-te que a morte é para cada um de nós a lei inexorável.
Quanto aos bens terrenos, sabe ganhá-los ou perdê-los com o mesmo estado de espírito.
E quanto aos males que o destino traz com ele, suporta-os sem gemer pela parte que te toca, tenta suavizar as marcas no que for possível.
Sabe ainda que:
Muitas vezes, os maiores males são afastados dos sábios.
Muitos e variados discursos, vis ou virtuosos, vêm acordar os homens. Não os aceites apressadamente nem os rejeites de modo precipitado.
Se te mentirem, suporta-o com doçura.
Ouve o meu conselho e segue-o sem vacilar:
Que ninguém, pela palavra ou pelos actos, te leve a proceder contra a tua vontade.
Reflecte bem antes de te decidires; é próprio de um louco cometer loucuras, por isso nunca faças nada de que te venhas a arrepender.
Não pretendas fazer aquilo que não sabes.
Aprende sobretudo o que for necessário saber. Se seguires estes conselhos, felizes serão os teus dias.
A saúde exigirá todos os teus cuidados; que o teu corpo tenha o alimento que é preciso, e exercício adequado para não o enfraqueceres. O que quero dizer por adequado é o que não te prejudica.
Vive na simplicidade, modestamente e sem moleza, evita o que te pode rodear de desejos, e não te entregues a gastos loucos, como fazem muitas vezes os ignorantes do belo.
Mas também não caias na temível avareza.
Adopta em todas as coisas a justa medida.
Faz aquilo que não te prejudica e avalia antes de agir.
Sabe que, ao acordares, a coisa urgente é traçar o plano dos teus actos futuros.
À noite, que o sono não te domine antes da tua consciência ter avaliado longamente todos os actos efectuados por ti durante o dia.
Interroga-te: "cometi algum erro? Que fiz eu? Ou então, será que não fiz o que devia ter feito?"
Revê assim os teus actos a partir do primeiro.
Se fizeste o mal, sabe arrepender-te.
Se fizeste o bem, sabe regozijar-te.
Sim, será este o teu objectivo constante dos teus esforços.
Observa estes conselhos:
Fá-lo com amor; eles poderão conduzir-te às divinas virtudes.
Juro por Aquele que transmitiu à nossa alma o Quaternário sagrado, fonte de eternidade de toda a natureza.
Mas antes de realizares a tua tarefa, terás de pedir aos deuses que te ajudem a completar a obra começada.
Quando fizeres de tudo isso um hábito, saberás os segredos dos deuses imortais tão bem como so dos homens mortais.
Saberás o que une ou separa os seres.
E se o homem atingir o direito de saber, verás que a natureza é a mesma por toda a parte; o teu coração já não se saciará com vãos desejos.
Verás que os males que os homens enfrentam foram exclusiva e livremente escolhidos por eles.
Porque estes desafortunados ignoram a felicidade que se encontra ao lado deles; tapam os ouvidos e fecham os olhos.
Poucos sabem escapar à infelicidade que os espreita.
Empurrados para cá e para lá, a fatalidade cega-lhes de tal modo o espírito que erram por toda a parte como troncos que flutuam, em males infinitos.
Sem que a possam ver, a mortificadora discórdia acompanha-os e leva-os à infelicidade.
Afasta-a de ti, foge dela com horror.
Ó Zeus, Tu, nosso Pai, se tu quisesses, poupá-los-ias dos males que os atormentam, se lhes mostrasses o segredo da sua alma.
Ganha coragem, meu filho, porque a tua raça é divina; a natureza sagrada far-te-á progredir, comunicando-te o fundo de todas as coisas.
Ao mostrar-to, ela permitir-te-á aplicar as lições do que prescrevi; remediarás os males da existência e livrarás a tua alma dos sofrimentos.
Todavia, abstém-te de certos alimentos de que falámos e que é preciso evitar para purificar a alma e para lhe assegurar a sua libertação.
Não faças nada sem razão; confia-lhe as rédeas da tua alma.
E quando finalmente deixares aqui o teu corpo, quando no livre éter voares, liberto para sempre das garras da morte, no seio dos Imortais, tu mesmo serás Deus.
O VINHO MÍSTICO (KHAMRIYA)
Em memória do Bem-Amado
Bebemos o Vinho que nos inebria
Antes mesmo da criação da videira
A taça que o contém
é um disco lunar brilhante
O Vinho, é sol.
Um crescente luminoso,
Um mordomo o serve à roda.
Com que luminosidade resplandece,
Já que no Vinho
Se misturam as estrelas !
Sem o perfume que exala
Um precioso perfume de musque
Eu jamais teria encontrado
o caminho da verdade
que conduz às suas tavernas.
Sem a luz que indica
Sua presença ao longe,
Sua imagem jamais teria
Nascido em meu espírito.
Pois neste século,
Sobrou dele apenas
um ligeiro sopro.
Como se no fundo dos corações
Um pacto secreto
Tivesse encerrado sua lembrança.
Então, apenas na tribo
Seu nome é mencionado,
Pois que uma embriaguez
Toma conta de seu povo.
Embriaguez sem vergonha
E sem pecado.
Por entre os flancos de uma ânfora
Lentamente ele subiu.
E logo, seu nome apenas
Permanece, em verdade,
Para o resgate de sua lembrança.
Tal lembrança
Visita , um dia
O espírito de alguém,
E por isso nesse alguém
A alegria passa a residir,
E a tristeza cela seu cavalo
Para ir-se embora, em longa viagem.
Os convidados descobrem
A tampa que fecha os vasos
Que o contêm.
Só esta visão já basta
Para inebriá-los
Antes mesmo de provar
A bebida.
Este Vinho, o derramamos
Sobre o solo
Onde um morto se enterra :
E tão logo o sopro o reanima
O cadáver e o morto
Levanta-se transbordante de vida.
Não se abandona um doente
Em seu terreno sombrio
Onde crecerá sua videira
Quando o mal tiver partido
O paralítico,
Assim que se aproxima
De suas tavernas,
Volta a caminhar.
Os mudos falam,
Quando se fala
diante deles
da sabor desse Vinho.
Assim que no Oriente
Sopra a brisa
Que traz o seu perfume,
No Ocidente,
Aquele que é privado de sua fragrância
Pode sentí-la
ainda outra vez.
Se, de dentro da taça
Uma gota respinga
Caindo sobre a palma da mão
Daquele que a segura,
Ele jamais se perderá
Caminhando pelas trevas
Pois em sua mão resplandecerá
Uma estrela.
Tal Vinho, é apresentado em segredo
A um cego de nascença :
E no dia seguinte, em plena alvorada
Ele se levanta, tendo recuperado a visão.
Quando se torna claro
o doce murmúrio desse Vinho,
Já logo recupera o ouvido
Aquele que é surdo.
Um tropel de cavaleiros
Ao trotar por sobre a terra
Onde cresce sua videira,
Jamais levaria no casco de seus cavalos
Qualquer resquício verminoso.
Um mago desenhou
Na testa de um possuído
As letras que formam seu nome
O que basta para curá-lo
Tal nome está bordado
No estandarte de um exército,
E todo o que marchar
Na sombra desta bandeira
É conduzido pela embriaguez
Ele educa seus convidados
E por eles, o homem indeciso
Adota o caminho
Das fortes resoluções
Ele sucita a generosidade
Na alma daquele
Cuja mão sempre ignorou doação
Ele ensina a doçura
Àquele que jamais a conheceu
Em seu momento mais colérico.
O mais forte da tribo
Tem o privilégio de beijar
A borda da taça,
Apenas este beijo
Permite-lhe saber
O sentido de suas perfeições
Dizem-me :
Descreva-o para nós,
Já que conheces tão bem
suas qualidades.
Sim, eu o descreverei,
Pois suas qualidades
Conheço-as perfeitamente.
Pureza !
Mas não a da água.
Sutileza !
Mas não a do ar.
Luminosidade !
Mas não a do fogo.
Alma carnal,
Sem corpo de carne.
Suas palavras precederam
Tudo o que existe aqui embaixo,
Quando nesse mundo
Faltavam a forma e a imagem
Por ele constituíram-se
Todas as coisas ;
Em seguida,
Por um certo saber, esconderam-se
Diante dos olhos que não compreendem.
Minha alma amou-o por inteiro.
Eles se misturaram
Para unirem-se
Mas não como uma simples
Mistura de duas matérias
Esse Vinho não foi extraído
De uma Vinha :
Adão é para mim um pai.
Vinha que não dá vinho :
Sua mãe é para mim uma mãe.
A pureza das taças
Contém na verdade
A pureza do sentido secreto
E cujo significado aparece
Através Dele.
A separação veio
Mas o todo é Um.
Nossas almas são o Vinho,
E nossa forma a videira.
Antes dele, não há antes ;
Depois dele, não há depois.
Sua necessária condição
É ser anterior
Ao mais recuado dos tempos.
Seu tempo
Precedeu o limite extremo do tempo.
O tempo de nosso pai
Veio apenas depois do seu.
Nossos pai viveu muito depois dele,
Como um órfão.
Seus admiradores
Celebram seus louvores,
Emocionados por sua beleza
São estes exelentes
Em verso ou mesmo em prosa.
Ao escutar os seus propósitos,
Regozija-se o que jamais ouvira,
Como o amante apaixonado
Pela bela Nou´m,
Assim que se pronuncia diante dele
O nome de sua amada.
Alguns me disseram :
Ao beber esse Vinho,
Cometeste iniquidade !
Isto não é verdade,
Pois iniquidade teria eu cometido
Ao privar-me de bebê-lo !
Que esta bebida
Alegre o coração
Dos habitantes do monastério !
A que embriaguez se abandonaram !
Entretanto não o beberam,
Mas apenas alimentaram
Sua intenção em bebê-lo.
Sua embriaguez, eu a experimentei
Antes de minha puberdade.
Em mim, ela será para sempre,
Mesmo depois de terem os meus ossos
Tornado-se poeira
Tal Vinho, bebe-o puro,
Pois, ao querer misturá-lo
A um outro licor
Que não a saliva do Amado,
Aí cometerás um crime !
Ele te espera nas tavernas,
Descobre o seu esplendor.
Bebe-o ao som de músicas,
Pois com ele, a música
É como uma presente que se oferece
Jamais ele habitou
Onde vive a tristeza.
E jamais a tristeza permaneceu
Na casa onde as canções se fundem
Embriaguez de uma hora !
O tempo se torna teu escravo
Sempre submetido,
Ainda que tua vida se interrompa
no final desta hora.
A ti então, o poder !
Aquele que viveu neste mundo
Sem embriaguez,
É como se não tivesse vivido !
Aquele que não morre
Desta embriaguez
Faltou-lhe a coragem
Neste mundo onde passou.
O homem que abriu mão de seu direito,
Durante a vida inteira,
Direito de beber deste Vinho,
Vinho que rejeitou.
Omar ibn al-Farid
veio povoar nosso Reino de Lusitânia e fundou nele a povoação de Setúbal.
Divididos em várias partes do mundo os descendentes de Noé, conforme a primeira divisão que já tocámos, Túbal, filho de Jafet, com a gente de sua família, escolheu por habitação mui acomodada a seu gosto a parte mais ocidental da Europa, para onde se partiu com grande número de gente; e, dando no mar mediterrâneo, se meteu com os de sua companhia em algumas embarcações feitas a modo de galés, descobertas e de menos fábrica que as do tempo de agora, como parece sentir Josefo em suas antiguidades e Xenofonte no livro dos equívocos. Nestas piquenas fustas navegaram ao estreito de Gibaltar, onde, levados das correntes do mar e ímpeto das ondas, saíram, como refere nosso Laimundo, ao mar Oceano, da grandeza e imensidade do qual pouco satisfeitos, como gente que trazia inda nos olhos a cruel destruição das águas, se acolheram à terra, dobrando sempre sobre a mão direita, té que ja no fim de alguns dias, tendo já passada uma grande ponta de terra, chamada dos antigos Promontório Saghrado e dos modernos Cabo de S. Vicente, se acharam em uma fermosa baía, por onde se lança no grande Oceano Ocidental um rio, maior em proveitos de pescarias e navegações que em quantidade de águas.
Vendo Túbal o bom sítio da terra, e os que consigo trazia enfadados de navegação tão larga, determinou fazer naquele lugar seu assento; e, tirando das embarcações o que trazia, deu princípio a uma povoação e modo de República, ordenada com as brandas leis e pouco maliciosos costumes daquele novo mundo, fundando moradas de sua vizinhança de ramos de árvores, cobertas com o feno de campo, sem as soberbas suntuosidades que a malícia dos homens inventou no tempo adiante.
Aqui viveu Túbal alguns anos, com toda a gente de sua companhia, apacentando os gados em que tinham naquele tempo o melhor de sua riqueza, e dele se deu nome à nova povoação que fundara, chamando-lhe Setúbala, que, segundo o Viterbense, tanto significa como ajuntamento de Túbal, e Pompónio Mela a chama Dúbal, usando da muita semelhança e quase uniformidade que sempre tiveram e têm as letras D e T, de que os autores usavam algumas vezes sem nenhuma distinção.
Esta povoação é a que no tempo de agora, com mui piquena alteração do primeiro nome, chamamos Setúval, assaz conhecida no Reino de Portugal e muitos fora dele, pelo grande e seguro porto de mar que tem junto de si e pela cópia de fermosas canterias de jaspe e pórfidos finissimos, donde se levam para diversas partes do mundo.
Desta antiquíssima cidade fez o mestre Florião do Campo uma estendida narração em seu livro primeiro, confessando ser ela a primeira que em Espanha teve nome e figura de República ordenada, sem consentir que Túbal aportasse primeiro em Portugal que em Andaluzia; mas com dizer que desembarcou noutra parte atribue a Castela a glória de mais antiga, e Martim de Viciana, buscando modo para engrandecer sua pátria, trabalha por mostrar que a desembarcação destes primeiros povoadores de Espanha foi no Reino de Valença, cuja história ele compos, cheia de muita doutrina. Depois dos quais achou Garivai outras novas conjecturas, donde conclue que Biscaia foi a primeira região em que Túbal tomou terra e assentou morada. Mas, como tudo o que dizem traz mais fundamento em imaginações e subtilezas inventadas de bom juízo, que em fé e autoridade de livros antigos, não há para que aprovar nem contradizer nenhuma delas. Mas com eles próprios, que ao fim não podem fugir de força e autoridade que tem a tradição antiga, digo que nosso Reino foi o mais antigo na povoação e Setúval o lugar em que primeiro ordenaram modo de vivenda e vezinhança com uma.
Livro Primeiro da Monarchia Lusitana - Frei Bernardo de Brito