domingo, abril 02, 2006

Infante Dom Fernando


Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua sancta guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-grandeza são Seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.


Fernando Pessoa
(1913)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Amigo:

Não te sabia poeta! Mas ainda bem. Gosta do género...diferente, profundo, original. Como disse outro grande poeta da nossa "praça": "primeiro estranha-se, depois entranha-se".

"Acudam que matam o Mestre...". Abraço,
Oscar de Castro Ferreira